domingo, 6 de fevereiro de 2011

COLEÇÃO RONALDO FRAGA E MARIA BONITA FAZ HOMENAGEM A BRASÍLIA

Nesse final de janeiro e início de fevereiro, o que se vê nos blogs são os comentários sobre os desfiles apresentados na 30º edição do SPFW. Alguns falam das roupas, outros dos calçados, maquiagem, cabelo, enfim é uma série de idéias sobre o que vai estar nas vitrinas da próxima estação. Nestes dias pude seguir quase todos os desfiles pelos mais badalados blogs e sites de moda do Brasil. Para quem estuda ou trabalha nessa área, sabe que as novidades foram poucas, uma vez que os trabalhos apresentados já eram objetos de estudos e pesquisas destes profissionais que antecipam as novidades. Foram apresentados desfiles maravilhosos de marcas e estilistas como, André Lima, Reinaldo Lourenço, Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, Lino Villaventura, Glória Coelho e tantos outros. De todos os desfiles, segundo a mídia especializada, dois deles sobressaíram com mais sucesso, Ronaldo Fraga e Maria Bonita Extra. São os que mais se ouvem falar, não apenas pelos críticos de moda, mas também os grandes jornais e revistas de assuntos sócio- político, econômico e cultural.
Ronaldo Fraga, trás para as suas criações uma infinidade de referências da cultura brasileira, por isso é um dos mais esperados e aplaudidos no mundo fashion. O estilista mescla moda com cultura e a soma desses dois fatores tem sempre resultados incríveis e com isso tem conquistado a atenção e o respeito dos mais variados intelectuais do país. Dessa vez, a coleção de Ronaldo Fraga, denominada a “casa de Athos” enfatizou um importante artista brasileiro, Athos Bulcão.
Quando se fala em obras de Brasília, o primeiro nome que nos vem à cabeça é o de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, no entanto há um terceiro nome, o do artista e azulejista Athos Bulcão. Suas obras foram realizadas em várias partes do mundo, como na Itália e em países dos continentes africanos e asiáticos, mas é em Brasília que está seu maior acervo. Apaixonado pela cidade permaneceu ali até a sua morte.
O estilista penetrou no universo de Bulcão, e contou sua história na passarela do SPFW, por meio de seus vestidos, túnicas, calças, acessórios e maquiagem. As roupas foram elaboradas com tecidos jacquard de algodão, seda, linho, algodão resinado, tafetá e outros mais. Foram aplicados bordados das mais variadas técnicas e as estampas acompanhavam a arte gráfica e abstrata de Bulcão. As cores eram pretas, o cinza concreto, tangerina e azul.
A boca da passarela foi assinada por Clarissa Neves e Paulo Waisberg, onde havia um tipo de “azulejo suspenso”, com fotografias de Ronaldo Fraga e as obras de Athos. E por fim, Marcos Costa completou a beleza do desfile, jogando tintas em tons azuis nas toucas douradas.
Já, a coleção de Maria Bonita, apresentou outra visão da Capital do país. A partir das investigações históricas, sociais e antropológicas de Danielle Jensen (design da marca), surgiu a inspiração através das  classes menos favorecidas e excluídas dos anos 50, os chamados candangos. Pessoas de modos simples que vinham geralmente do Nordeste do país. A palavra candango inicialmente era um termo pejorativo para se referir aos integrantes da classe operária.
As formas, linhas e a cartela de cores dos looks apresentados, fazem alusão ao contexto histórico dos candangos. Os acessórios são de metal, inspirados nas marmitas e maletas de ferramentas dos trabalhadores.
Maria Bonita também homenageou Athos Bulcão, apresentando malhas com aplicações de pedaços de azulejos de resina triangulares, lembrando as obras do artista. A maquiagem e cabelo de Celso Kamura, retratou a pele marcada pelo sol quente da região centro oeste.  
Finalizando, o que se ouve a respeito do trabalho das duas marcas citadas acima, é que ambas se inspiraram em personagens e fatos genuinamente brasileiros, deixando de lado o estrangeirismo, que na maioria das vezes já faz parte da linguagem da moda. E esse diálogo entre moda, arte e contexto histórico é que resultou em trabalho diferenciado. Observando que essa já é uma característica de Ronaldo Fraga, por isso é tão admirado e respeitado. 
Em relação à esses trabalhos, podemos dizer que é possível extrair uma série de lições, uma delas é que  os estilistas das duas marcas, tem como ponto de partida o conhecimento e a visão ampliada para outros assuntos, que não seja apenas o processo de construção do vestuário. Isso nos sinaliza que é praticamente impossível tornar-se um bom design ou estilista, sem que haja um conhecimento mais aprofundado sobre ciências humanas e estudos culturais. Por isso é aconselhável que os profissionais da área de moda lance um olhar mais investigativo e crítico sobre a história, geografia, antropologia, politica e cultura.
Fontes:
http://www.fundathos.org.br/
http://www.gnt.globo.com/
http://www.mdemulher.abril.com.br/
http://www.uoestilo.blog.uol.com.br/
http://www.blogs.estadao.com.br/
Coleção de Ronaldo Fraga foi inspirada nos trabalhos do artísta Athos Bulcão
A coleção de Maria Bonita faz alusão aos cadangos (perários) de Brasília dos anos 50
Celso Kamura retrata a pele marcada dos candangos

Sardas feitas com base airbrush

as sardas parecem real

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